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09/02/2021 12:31

Hamilton fica, Globo sai e streaming da F-1 pode chegar

Escrito por Wagner Gonzalez
Jornalista especializado em automobilismo de competição

Foto: Mercedes

Lewis Hamilton e Toto Wolff seguirão juntos por mais um ano


Uma temporada. Esse é o prazo do mais recente contrato assinado entre o heptacampeão mundial Lewis Hamilton e a equipe Mercedes. Esse intervalo e o fato de que o contrato com Valtteri Bottas também termina ao final de 2021 sugerem mudanças maiores pela marca alemã e o nome mais forte para ocupar uma dessas vagas é o do inglês George Russell. Enquanto a lista de inscritos está completa, o calendário da temporada ainda está sujeito a chuvas e trovoadas, incluindo a etapa brasileira, prevista para acontecer dia 14 de novembro, em Interlagos, e já se fala na possível chegada de uma nova equipe.

Negócio multimilionário, a F1 demanda planejamento estratégico dos mais complexos para maximizar o investimento mínimo necessário para fazer parte do grid. Para quem busca e se mantém como time a ser batido por sete anos seguidos, esse trabalho é ainda mais exigente e complexo: o próprio Toto Wolff deixou isso claro em declaração publicada pelo portal norte-americano racer.com.

“O Lewis precisa decidir o que espera do seu próprio futuro e por esse motivo eu não gostaria de comentar o que ele pensa. Já a nossa equipe precisa definir com antecedência o que queremos decidir com relação a pilotos...”

O austríaco foi além e deixou claro que durante a temporada de 2021 tanto Hamilton quanto Bottas terão toda a dedicação e comprometimento por parte da Mercedes e que ambos serão os primeiros a serem chamados para conversar sobre as vagas de 2022. A primeira parte faz total sentido, afinal, porque sabotar um exercício que envolve mais de 1.000 funcionários de altíssima competência e que movimenta centenas de milhões de dólares? Já a segunda parte não dá nenhuma garantia que um ou outro será mantido. O saldo dessa história, pelo menos no que diz respeito a Hamilton, é que o fato de que ele estará livre para assinar com qualquer equipe para a 2022. Tal situação já provoca noites sem dormir por parte de donos de equipe, patrocinadores e torcedores ávidos de contar com seus serviços não importa se as vagas para essa temporada estão definidas ou não.

Um detalhe interessante do acordo que garantiu a continuidade de Hamilton na Mercedes foi o compromisso do fabricante em apoiar ativamente uma ação em prol de maior diversidade e inclusão no mercado de trabalho pertinente ao esporte a motor. Isto se traduz em uma fundação conjunta entre piloto e marca cuja missão principal é incentivar projetos que provoquem e consolidem essas conquistas.

Com relação ao calendário deste ano, o recrudescimento da pandemia do COVID-19 em Portugal praticamente anulou as chances de o país ibérico ser novamente incluído na agenda de 2021. A corrida que poderia substituir o GP da China tem chances de ser realizada... na China, mas em data a ser encaixada no calendário ainda longe de ganhar um formato definitivo. Já a etapa brasileira começa a consolidar uma imagem de instabilidade semelhante ao ambiente político da Ferrari, tantas que são as idas e vindas com relação à renovação dos contratos que envolvem o evento. A maneira velada como o respectivo contrato entre a FOM (empresa do grupo Liberty Media que explora os direitos comerciais da categoria), o governo paulista e entidades interessadas no evento dão margem a interpretações deturpadas sobre o acordo.

Em vídeo distribuído nas redes sociais nos últimos dias, o vereador Rubinho Nunes (Patriota-SP), explica que a prefeitura de São Paulo creditou no dia 6 de janeiro passado a quantia de R$ 17 milhões na conta da FOM para ter uma data o calendário de 2021 e assinou contrato no valor de R$ 100 milhões para a empresa MC Brasil realizar o GP de São Paulo de F1.

Metade dessa afirmação procede, a outra não: a taxa da FOM é legítima enquanto a verba de R$ 100 milhões é referente à realização do GP por cinco anos, certamente com valores corrigidos anualmente, e não um pagamento referente a uma corrida apenas, como sugere o vereador. O ponto mais pungente da campanha de Nunes diz respeito às eternas reformas que deverão acontecer no autódromo paulistano, uma tragédia recorrente que drena os cofres públicos, prejudica o automobilismo nacional e regional e que jamais traz trouxe resultados considerados de primeira qualidade.

A atitude de Nunes acabou por suspender o contrato que garante a F1 em São Paulo, documento que segundo ele não garante a exploração comercial de publicidade ou direitos de imagem para os cofres públicos e contrato foi feito sem licitação pública. Novamente faz sentido pela metade: o promotor do evento tem os direitos sobre seu produto, mas a outorga do contrato foi feita de maneira sigilosa e em desacordo com a legislação em vigor. O GP em Interlagos, caso aconteça, poderia ser palco de uma avaliação que engloba ainda as corridas em Montreal e Monza: a disputa de uma corrida curta, no horário reservado para a prova de classificação no sábado, e que serviria para definir o grid de largada no domingo e aumentar o valor agregado do evento.

A maior parte dos GPs da temporada conta com auxílio do governo local, cujo investimento tem retorno através do movimento que o evento gera no comércio local. Isso ocorre pela demanda de produtos e serviços gerada pelo circo da categoria, em torno de 3 mil pessoas, e em uma situação sem pandemia, um número de convidados e espectadores que pode chegar, ou mesmo ultrapassar, 50 mil pessoas. Isso garante não apenas um retorno significativo aos cofres público em forma de impostos como também uma injeção de recursos na sociedade. Na área dos benefícios não tangíveis pode-se agregar a divulgação da cidade em um espectro de alcance mundial, o que pode atrair investimentos... ou afastar tal oportunidade.

Sob o tema investimento podemos falar também da decisão da TV Globo em abandonar, mais uma vez, as negociações para renovar seu contrato para exibir a temporada em suas plataformas de sinal aberto, streaming e portais. Comenta-se que o profissional que até o ano passado era responsável pela produção das reportagens in loco sabia que seu contrato não seria renovado para 2021, o que explica a rapidez com que a rede Bandeirantes deixou vazar que vai aproveitar essa oportunidade. Da mesma maneira, memes com o apresentador José Luiz Datena narrando um suposto acidente em uma corrida em Spa ganharam proeminência nas redes sociais não apenas pela maneira tosca como o comunicador narrava o episódio como, principalmente, pelo detalhe que o tal acidente que ele descrevia com entusiasmo aconteceu em uma corrida virtual...

O episódio pode ser falso, mas dá uma ideia de problemas que poderão ocorrer se o investimento da Band ficar aquém de um padrão de qualidade que a própria Globo já não oferecia e que foi um dos obstáculos não superados na última negociação com a FOM. Historicamente, a diferença do padrão das coberturas em eventos entre ambas reflete o poder financeiro de cada uma, variação que poderá ser mitigada pela chegada do serviço de streaming da FOM no mercado brasileiro. Se a Band participar da produção desse material, sairemos ganhando; se a rede baseada no bairro paulistano do Morumbi mantiver o padrão off tube – quando locutor e comentarista narram o evento acompanhando as imagens através de imagens exibidas em uma tela no estúdio -, sairemos todos perdendo.

Olhando o futuro mais distante quem poderá sair ganhando em 2022 é o grid da F1: Salvatore Gandolfo, empresário italiano residente em Monte Carlo, já comenta abertamente que poderá inscrever uma nova equipe no campeonato do ano que vem. Se tudo der certo será a primeira adição ao grid desde a chegada da equipe Haas, em 2015. Ainda não se fala em maiores detalhes sobre projetistas e corpo técnico. Por outro lado, está claro que o sucesso do empreendimento depende de uma mudança na legislação no que diz respeito ao depósito de US$ 200 milhões necessário para entrar no campeonato, depósito que é restituído ao final da primeira temporada. De acordo com Stefano Domenicali, novo CEO da FOM, se existem um momento para mudar essa normativa, o momento é agora.


Confira os pilotos e os números dos seus carros para 2021:

Alfa Romeo-Ferrari: Kimi Räikkönen (7) e Antonio Giovinazzi (99)
AlphaTauri-Honda: Pierre Gasly (10) e Yuki Tsunoda (22)
Alpine-Renault: Fernando Alonso (17) e Estebán Ocón (18)
Aston Martin-Mercedes: Sebastian Vettel (5) e Lance Stroll (18)
Ferrari: Charles Leclerc (19) e Carlos Sainz Jr (55)
Haas-Ferrari: Nikita Mazepin (9) e Mick Schumacher (47)
McLaren-Mercedes: Daniell Ricciardo (3) e Lando Norris (4)
Mercedes-AMG: Lewis Hamilton (44) e Valtteri Bottas (77)
Red Bull-Honda: Sérgio Pérez (11) e Max Verstappen (33)
Williams-Mercedes: Nicholas Latifi (6) e George Russell (63)

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