EGT e Sonda Lambda no Acerto de Motores 2T: Precisão e Performance no Kartismo Profissional

Thomás Becker é ex-piloto e atleta profissional, que atua como analista de dados pela T.I. Performance em diversas categorias. É também coach de pilotos e professor de análise de dados.
No universo do kartismo profissional, onde cada décimo de segundo faz diferença, o acerto fino do motor 2 tempos é um dos fatores mais decisivos para o desempenho em pista. Entre os parâmetros mais utilizados para isso, está a temperatura dos gases de escape, ou EGT (Exhaust Gas Temperature), que fornece uma leitura indireta da mistura ar/combustível. No entanto, tecnologias mais modernas como a sonda lambda vêm ganhando espaço, oferecendo uma leitura mais precisa e ampla sobre o comportamento do motor.
O Que é a EGT?
A EGT é a temperatura dos gases que saem da câmara de combustão após a queima. Em motores 2T de competição, essa medição é feita geralmente com sensores do tipo termopar (ou thermocouple), instalados no tubo de escape, a uma distância padronizada da saída do cilindro – normalmente entre 10 a 15 cm, dependendo do layout e da categoria.
O termopar mais comum nesse tipo de aplicação é o tipo K, que suporta altas temperaturas (acima de 1000°C) e responde rapidamente às variações térmicas. Ele gera uma pequena tensão elétrica proporcional à temperatura, que é lida por módulos de telemetria ou instrumentos dedicados no volante do kart.
A Relação com a Mistura Ar/Combustível
A EGT está intimamente ligada à mistura ar/combustível:
- Mistura rica (mais combustível que o ideal): queima mais fria, EGT mais baixa.
- Mistura pobre (menos combustível que o ideal): queima mais quente, EGT mais alta.
Em teoria, uma EGT mais elevada indica uma mistura mais pobre, o que pode gerar mais potência — até certo ponto. Passado esse limite, a queima se torna perigosa, com risco de superaquecimento, pré-detonação e travamento do motor. Por isso, pilotos e mecânicos experientes usam a EGT como referência para manter a carburação dentro de uma “janela segura” de temperatura, geralmente entre 600°C e 720°C, dependendo do motor e da condição de pista.
Mas esse método tem limitações.
As Limitações da EGT
Apesar de útil, a EGT é um parâmetro indireto. Ela não mede a mistura em si, mas sim uma consequência térmica dela — o que significa que pode ser influenciada por outros fatores, como ponto de ignição, temperatura ambiente, ressonância do escapamento e até variações no combustível.
Além disso, a resposta da EGT pode ser mais lenta em relação às variações rápidas da mistura, especialmente em condições de pista onde o piloto está constantemente mudando a carga do motor. Isso dificulta ajustes realmente precisos, principalmente em carburações mais agressivas.
O Que a Sonda Lambda Agrega
A sonda lambda, por outro lado, mede diretamente a proporção ar/combustível (AFR – Air/Fuel Ratio) nos gases de escape. Isso é feito através da detecção da quantidade de oxigênio residual na queima, fornecendo um valor mais objetivo sobre o quão rica ou pobre está a mistura.
Em motores 2T, o uso de sonda lambda sempre foi desafiador, pois o óleo da mistura e o comportamento pulsante do escape dificultam leituras estáveis. No entanto, sensores modernos com aquecimento interno, filtragem e leitura por média (como os de banda larga – wideband) já conseguem trabalhar de forma bastante confiável em karts de competição.
Comparativo Prático
Parâmetro | EGT (Termopar) | Sonda Lambda (Wideband) |
Tipo de leitura | Indireta (temperatura) | Direta (mistura ar/combustível) |
Tempo de resposta | Médio | Rápido |
Influência de variáveis externas | Alta | Baixa |
Precisão para ajuste fino | Boa (com experiência) | Excelente |
Custo e simplicidade | Baixo, fácil de instalar | Mais alto, exige eletrônica dedicada |
Conclusão
A EGT continua sendo uma ferramenta valiosa e acessível para o acerto de motores 2T, especialmente em pistas onde o tempo para ajustes é curto. No entanto, para quem busca o máximo em consistência, leitura confiável em tempo real e decisões baseadas em dados objetivos, a integração da sonda lambda é o próximo passo natural.
Num cenário cada vez mais competitivo, onde margens são mínimas, a combinação de EGT + sonda lambda oferece o melhor dos dois mundos: segurança térmica e precisão na mistura. Uma dupla que pode significar a diferença entre chegar no pelotão ou no pódio.