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02/12/2020 08:34

Acidente de Grosjean dispara investigação e trará melhorias à Fórmula 1

Escrito por Wagner Gonzalez
Jornalista especializado em automobilismo de competição

Foto: Haas

Romain Grosjean pouco antes da largada do GP do Bahrein, onde sofreu acidente espatacular


Eventos de alto impacto geram oportunidades muito além de novos negócios e um exemplo disso é o espetacular acidente sofrido por Romain Grosjean na volta inicial do GP do Bahrein. Pode-se estudar o fato por diversos ângulos, desde a eficiência do chassi VF20 até detalhes do autódromo desenhado por Hermann Tilke e que demandou investimento de US$ 155 milhões. Mais, sem condições de competir na etapa do próximo domingo, Grosjean será substituído por Pietro Fittipaldi, o que significa a terceira geração e o quarto representante dessa família a disputar um GP de Fórmula 1.

A dinâmica do acidente envolvendo Romain Grosjean vai impactar diversos protocolos de segurança ativa e passiva, adotados pela F1, alguns deles de implementação mais rápida e fácil do que outras. Um exemplo disso é a provável utilização de dois medical cars no lugar de apenas um. No que se refere a alterações nas especificações técnicas nos carros, é pouco provável que alguma decisão seja tomada antes que uma longa e detalhada investigação apresente um relatório das causas e danos do acidente, algo que inclui estudar o projeto e os materiais usados no autódromo barenita.

No que se refere ao automóvel, alguns pontos já merecem questionamentos: o ponto de ruptura da estrutura, o rompimento do tanque de combustível e a separação de um conjunto roda/pneu que se desprendeu do chassi. A Dallara, empresa que constrói o carro, já declarou que a ruptura aconteceu no local projetado para tal; em relação aos outros dois pontos ainda é cedo para especulações, mas itens como as barreiras de proteção levantam questões mais imediatas.

A primeira delas é o fato das lâminas dos guard-rails estarem montados com um vão considerável entre elas e em um ângulo em relação à pista não indicado para aquele ponto. O espaço que separa as longarinas de metal é algo que já custou a vida de vários pilotos, casos de Giovani Salvatti em uma prova de Fórmula no autódromo de Tarumã e François Cevert em Watkins Glen, nos Estados Unidos.

No primeiro caso, ocorrido em 14 de novembro de 1971, o Tecno de Salvati penetrou o espaço entre o guard-rail e o piso da curva 1; no segundo, ocorrido dia 6 de outubro de 1973, o Tyrrell do francês destroçou o guard-rail nos esses do traçado situado na região dos Finger Lakes. Em Sakhir o pior foi evitado por um aparato adotado recentemente, o arco de segurança conhecido como halo, nome adotado graças ao formato que sugere uma auréola. Não houvesse esse equipamento de segurança, o piloto franco-suíço certamente teria sido decapitado.

Ao se considerar que o impacto do carro de Grosjean aconteceu a uma velocidade aproximada de 220 km/h e gerou energia equivalente a uma força de 53g, saber que as consequências imediatas sofridas pelo piloto foram apenas queimaduras nas mãos é mais do que louvável. Nem por isso deve-se deixar de pensar em indumentárias mais resistente às chamas e esquecer o acidente de Mark Neary Donohue durante os treinos para o GP da Áustria de 1975. Durante o treino de aquecimento para a competição que seria disputada na tarde daquele 17 de agosto, o piso molhado provocou vários acidentes, inclusive durante a competição que registrou a única vitória do italiano Vittorio Brambilla na categoria.

No acidente ocorrido na curva Hella Licht, o carro de Donohue bateu contra um painel de publicidade e atingiu o comissário de pista Manfred Schaller, que faleceu no local. Inicialmente o norte-americano queixou-se de dor de cabeça e no dia seguinte foi levado a um hospital em Gratz, onde veio a falecer na terça-feira, 19 de agosto, vítima de hemorragia cerebral decorrente do choque que rachou seu capacete. Obviamente os cuidados médicos dedicados a Romain Grosjean no Hospital das Forças de Defesa, situado em Riffa, são muito superiores aos disponíveis em Gratz em 1975. Porém até que seja confirmada a alta do piloto, algo esperado para esta terça-feira, é aconselhável praticar a prudência.

Sem poder contar com Grosjean para o GP de Sakhir, a Haas confirmou o nome do Pietro Fittipaldi como seu substituto nesse evento. O brasileiro nascido em Miami (EUA) no dia 25 de junho de 1996, é filho de Juliana, que é filha de Emerson, sobrinha de Wilsinho e prima de Christian, todos eles com passagem pela F1. Há dois anos ligado ao time de Gene Haas, Pietro já fez testes de pista pela equipe e tem no currículo um extenso logbook de horas no simulador da equipe norte-americana.

Estes dois detalhes contarão a seu favor e ajudarão a amenizar sua inexperiência em GPs e, principalmente, as limitações de rendimento do Haas VF20-Ferrari. Independente disso, sua presença no grid de largada de domingo marca o retorno de um brasileiro à categoria. Melhor do que isso seria sua participação na corrida seguinte, mas se o franco-suíço estiver em condições mínimas de competir ele terá preferência e poderá celebrar sua despedida do time.

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