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22/02/2018 08:33

Último degrau cada vez mais próximo

Escrito por Sérgio Sette Câmara
Piloto de testes e desenvolvimento da equipe McLaren de F1 | Piloto da equipe DAMS no Campeonato Mundial de F-2

Amigos do Kart Motor, quero começar esta minha nova coluna me desculpando com vocês. Como muitos aqui acompanham a minha carreira, não preciso dizer que o meu ano de 2017 foi extremamente intenso. No começo, me adaptando ao Campeonato Mundial de Fórmula 2 e, na segunda metade da temporada, focado em me manter entre os melhores da competição, sempre em busca dos pontos e dos pódios.

Enfim, acabei me distanciando muito dos amigos kartistas, mas hoje volto a este espaço para contar um pouquinho da excelente experiência que tive nesta semana. Depois de mais de 90 dias eu voltei a guiar um fórmula de competição, um carro 100% novo, que acabou de nascer e já chegou impressionando a todos que tiveram a oportunidade de acelerar.

O novo carro do Campeonato Mundial de Fórmula 2 foi à pista pela primeira vez nesta semana. A máquina, construída pela Dallara, segue as novas determinações de segurança da FIA e conta até mesmo com o halo (aquela coisa ridícula na frente do cockpit que parece uma sandália havaiana). Apesar disso, os novos componentes aerodinâmicos se mostraram muito eficientes e, mesmo tendo andado em condições de temperaturas muito baixas, o conjunto se mostrou bem mais estável que o anterior. Infelizmente, os pneus Pirelli seguiram sem alteração, o que torna o fim de semana bem mais complicado para nós. Isso acontece porque, simplesmente, os compostos acabam muito rápido e temos uma quantidade muito limitada para os treinos, tomada de tempos e as duas corridas.

A partir de 2018 o motor da F2 segue também a linha da modernidade. Apesar do fornecedor único continuar sendo a Mechacrome, da França, deixamos os aspirados com o tradicional “barulhão” para aderirmos ao V6 turbo, 3.4 Litros, que vai desenvolver 620 cavalos. Em termos de potência final, a diferença não é tão grande, porém a sensação de força nas arrancadas e retomadas é realmente impressionante.

Com todas essas mudanças, o carro da F2 de 2018 é cerca de 30 kg mais pesado que o seu antecessor. Porém, a boa notícia para nós pilotos é que mesmo assim os técnicos da Dallara garantem que este conjunto será, em média, um segundo mais veloz dependendo do setup da equipe e do layout de cada pista.

Para mim, porém, o que acredito que fez a maior diferença mesmo foi a parte tecnológica. O novo carro está muito mais próximo de um Fórmula 1 agora não apenas na parte de motor, câmbio e aerodinâmica, mas também na eletrônica. O novo volante me lembrou muito o que utilizei quando tive o meu teste com a Toro Rosso, em 2016. Agora temos a chance de mudar a forma de aceleração, alterar ajustes de embreagem e várias outras coisas que nem mesmo nos apresentaram ainda.

No carro do ano passado a única coisa que podíamos mexer era no balanço dos freios. Assim, seremos ainda mais exigidos durante as corridas, uma vez que, ao clique de um botão do volante, teremos a chance real de mudar o setup do carro volta a volta. Isso irá trazer para o equipamento um ajuste muito próximo do ideal nos diferentes momentos da corrida. Para completar, tenho certeza que qualquer piloto da F2, com esta mudança, estará muito mais preparado para fazer um teste ou, simplesmente, subir para a F1.

Espero que tenham gostado e, prometo, neste ano farei o possível para contar mais histórias aqui para vocês.
Forte abraço!